Miguel

"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia

Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.

A maioria dos meus toots são privados.

Miguel boosted:
2025-08-18

"A rejeição da Igreja nascente e a perseguição pelas autoridades judaicas fez Paulo escrever algumas linhas que, tiradas de seu contexto, alimentaram no futuro o antissemitismo: “[Os judeus] não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, mas também nos perseguiram; eles não são do agrado de Deus, e são inimigos de todos os homens” (1Ts 2,15). No entanto, o NT não culpabiliza sempre os judeus; sabe que em Jesus estava em jogo um plano de Deus que ultrapassa a história. A morte, sem deixar de ter responsáveis, era superior a todos os que estavam no meio dela. Tanto Paulo quanto o autor dos Atos dos Apóstolos veem a Deus como primeiro ator e absolvem os judeus porque não sabiam o que estavam fazendo. “Agora, irmãos, sei que agistes por ignorância, como também vossos chefes. Deus, porém, deu cumprimento ao que já anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo devia padecer” (At 3,17-18). “Pois, na verdade, uniram-se nesta cidade contra teu santo servo Jesus, que ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos com os pagãos e o povo de Israel, para executarem o que a tua mão e vontade predeterminaram que sucedesse” (At 4,27-28). Se tivessem sabido quem era Jesus não o teriam crucificado: “Se os príncipes deste mundo o tivessem conhecido, nunca teriam crucificado o Senhor da glória” (1Cor 2,8). O antissemitismo nasce de uma leitura falsa do NT e de um paralogismo. Decênios de anos depois de a Igreja confessar explicitamente a Jesus como Filho de Deus e enquanto tal Deus, uma dedução macabra levará a afirmar: se Jesus é Deus e os judeus o mataram, os judeus mataram o próprio Deus (deicídio); portanto, são culpáveis pela morte de Deus119. Nenhum crime mais horrendo do que este e, para saldá-lo, exigiram a morte de Jesus, não somente os judeus que naquele dia exerceram a autoridade, mas todo o povo e cada membro do povo, os contemporâneos de Jesus e os que vieram depois. Cada judeu individualmente foi visto como culpável pela morte de Cristo. Os ecos desse grande erro teológico e desse crime de lesa-majestade chegam até as câmaras de gás em Auschwitz. A Igreja Católica esclareceu esta doutrina no Vaticano II (cf. NA 4) distinguindo os líderes do povo de então, o povo enquanto tal e cada um de seus membros. Ao mesmo tempo sublinhou que o decisivo na morte de Jesus não é quem o matou, mas como e porque morreu. Os verdadeiros protagonistas ativos e passivos dessa morte, para além dos de caráter histórico, são os de caráter teológico: o amor de Deus é um deles e o pecado de todos os homens é outro. Desta forma a cruz é, por um lado, o sinal do pecado dos homens, e, por outro, símbolo do amor e do perdão universal de Deus. Em outra obra expus como a cruz de Jesus é simultaneamente um crime, um símbolo e um mistério120. À luz dessa destinação universal da morte de Cristo (“morreu por todos”, etiam pro nobis), descobrimos a responsabilidade de todos em sua morte. Perante sua inocência, seu silêncio e sua intercessão agonizante, todo homem de boa índole se reconheceu pecador e suplicou seu perdão. Uma vez perdoado, na alegria da reconstrução pelo amor, se deu conta da verdadeira natureza e das consequências do pecado. Diante do Crucificado todos descobrimo-nos pecadores e compreendemos que “Cristo morreu por minha causa (sou um pecador) e morreu a meu favor (para que eu seja justo e filho de Deus)”. Entretanto, uma comunidade de discípulos, dispersos, traidores ou pecadores perdoados por Deus, não poderia sair em busca dos culpados pela morte de Jesus. Culpados eram também eles, e o somos todos à medida que fomos e continuamos sendo pecadores por negar a Deus e ao próximo em nossa vida real: humilhamos os inocentes, criamos pobres, rejeitamos os profetas, ignoramos os santos. Isto significa que se tivéssemos estado lá, também nós teríamos colaborado na morte de Jesus. Esta morte é o resultado final da ação de alguns por suas injustiças ou más obras, por omissão de outros, por distanciamento e falta de solidariedade para com a pessoa acusada, pelo pecado de todos por não sermos pessoas do bem. Jesus morreu porque atentaram contra Ele e, sobretudo, porque ninguém se arriscou a defendê-lo. A consciência de que fazemos o mal e omitimos o bem, cada qual ao seu tempo, levou a descobrir que todos somos culpados pela morte de Cristo, porque em cada ser humano que julgamos, pelo mal feito ou pelo bem omitido, estamos reproduzindo aquela situação. “Gemei, humanos, todos pusestes nele vossas mãos”, diz o poeta A. Lista. Já, A. Machado confessa: “Nós turvamos / a fonte da vida, e o sol primeiro, / com nossos olhos tristes, / com nossa amarga prece, / com nossa mão ociosa, / com nosso pensamento / – Nascemos no pecado, / vivemos na dor. / Deus está longe!” (Poesía y prosa [Madri 1989] II, 563)."

— Olegario González de Cardedal: Cristologia, pp. 154-156

Olegario González de Cardedal: Cristologia (Paperback, Português language, Editora Vozes)
2025-08-18

Seria legal se ebooks tivessem marcação de página referente a versão física.

Miguel boosted:
2025-08-18

Estava pensando em voltar com o @Traduzine e para isso queria entender melhor como descrever imagens. O resultado foi esse resuminho.

miguel.blog.br/posts/descricao

#Blog #Blogue #Texto #AltText

Miguel boosted:
2025-08-18

se um país acumula riqueza exportando mais do que importa, o mais lógico é investir essa riqueza no país, e não usá-la para comprar dívida dos EUA. A própria noção de precisar ter “reservas internacionais” deveria ser alienígena e ilógica.

https://subversida.de/as-reservas-internacionais-e-o-imperialismo/

2025-08-17

Estava pensando em voltar com o @Traduzine e para isso queria entender melhor como descrever imagens. O resultado foi esse resuminho.

miguel.blog.br/posts/descricao

#Blog #Blogue #Texto #AltText

2025-08-16

Mingus Plays Piano. — Um álbum semi improvisado do homem nervoso do jazz. Charles Mingus um excepcional contrabaixista experimenta aqui um pouco da singeleza do piano.

youtube.com/playlist?list=OLAK

#Música #Jazz #Sábop

2025-08-15

Não sei se já aconteceu, mas inspirado na #tercinema com aviões bem poderia ter um sobre navios/barcos

@Vitu @marte

2025-08-15

"Sem querer ofender ninguém mas" — começam as maiores ofensas possíveis.

2025-08-14

@amber Baixo meus FLACs pelo soulseek e internet archive

2025-08-14

@evaristoramosarte Enquanto isso no mundo da literatura vi uma análise enfatizando como o livro era "cinematográfico". É cada um querendo se validar de umas maneiras muito estranhas.

2025-08-13

@procrastiwalter Um cassino e uma rede social. Só coisa boa.

2025-08-13

@odd Nice water.

2025-08-13

"De fato, branquitude, em sua essência, diz respeito a um conjunto de práticas culturais que são não nomeadas e não marcadas, ou seja, há silêncio e ocultação em torno dessas práticas culturais. Ruth Frankenberg chama a atenção para branquitude como um posicionamento de vantagens estruturais, de privilégios raciais. É um ponto de vista, um lugar a partir do qual as pessoas brancas olham a si mesmas, aos outros e à sociedade."

openlibrary.org/works/OL431811

#QuartaCapa

Miguel boosted:
2025-08-12

"Se inovações periféricas, como as experiências latino-americanas com informática, não se tornaram dominantes, não é porque fossem necessariamente inferiores aos concorrentes corporativos, militares e metropolitanos. As razões pelas quais algumas tecnologias sobrevivem e outras morrem não são estritamente técnicas, mas políticas. O modelo cubano era, sem dúvida, mais sofisticado tecnicamente do que seus homólogos americanos. No entanto, algumas tecnologias são patrocinadas pela indústria da publicidade, enquanto outras são restringidas por um embargo comercial neocolonial. Algumas são apoia- das pelo Pentágono, outras, esmagadas pelo Vaticano. É crucial recuperar essas alternativas perdidas, pois elas nos mostram como as tecnologias poderiam ter sido de outra forma — e ainda podem ser no futuro. No entanto, essas histórias são difíceis de recuperar. Seus protagonistas podem permanecer anônimos, e seus registros, não preservados."

— Rodrigo Ochigame: Informática do oprimido, pp. 83-84

Rodrigo Ochigame: Informática do oprimido (Portuguese language, 2025, Editora Funilaria)
2025-08-09

Underground. — Talvez a capa de jazz mais icônica de todos os tempos. Monk como um combatente da Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial tocando piano. Ao seu lado, um soldado da Gestapo, amarrado e impotente. Ao fundo, obviamente uma vaca. Tudo isso no que parece ser um abrigo subterrâneo da Segunda Guerra. Mas esse também é um clássico da capa ao som. Conta com as teclas cintilantes de Monk além do último trabalho do Thelonious Monk Quartet.

youtube.com/playlist?list=OLAK

#Sábop

2025-08-04

Minhas reflexões pessoais dos gostos do fediverso brasileiro. Sintam-se livres para apontar seus pontos de vista.

miguel.blog.br/posts/do-que-o-

#Blog #Blogue #Texto #IndieWeb

2025-07-30

Desde criança eu fui um leitor, mas na pré adolescência a depressão me fez abandonar esse e muitos outros hábitos. Passei muitos anos sem ler nada até que um dia encontrei esse livro ao acaso no meio de algumas tralhas da igreja e gostei tanto que comprei uma coleção com mais contos do autor, depois outras histórias e então sem perceber voltei ao antigo hábito da leitura.

Na minha cabeça essa moça da foto que encontrei no meio do livro ou é Berenice, Ligeia ou Eleonora.

#QuartaCapa

Livro de bolso antigo e gasto com uma capa vermelha marcada pelo Tempo. Título: Biblioteca de ouro da literatura universal. Edgar Allan Poe. Histórias extraordinárias 3.Interior do livro, página amarelada, gasta e suja. No centro uma foto 3x4 em preto e branco de uma mulher de cabelo curto, a foto está gasta e sua boca e nariz não são visíveis mas seus olhos são marcantes.
2025-07-02

Breves notas da minha leitura de " Imperialismo, estágio superior do capitalismo" de Lênin.

miguel.blog.br/posts/imperiali

#Blog #Blogue #Texto

2025-07-01

Li o ultimo texto do @hugu e decidi reviver alguns devaneios que tive em 2023.

miguel.blog.br/posts/escrever/

#Blog #Blogue #Texto

2025-06-22

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