Eu não sou ISFP…
Quem é você no teste Myers-Biggs?
A moda é antiga. O teste foi criado por mãe e filha na Segunda Guerra Mundial para classificar as personalidades de mulheres.
Durante a minha adolescência e juventude (de corpo, porque de mente continuo curioso e febrilmente ativo aos 58 anos) entre os anos 70 e 90 acho que não se falava nisso e é bem capaz da moda ter surgido com o crescimento da realidade online; em busca de assunto, em busca até de engajamento… Pensando melhor, talvez tenha ficado popular antes em revistas para mulheres nos anos 90, que eu ignorava porque homem ignorava muito mais coisa do que ignora hoje.
É importante conhecer a história das coisas, mas estou me desviando do assunto, né? Vou colocar links no final do post.
O que importa a princípio é o que você acha do teste. Me parece que muita gente pensa “Nossa! Sou eu!”… Então… Já ouviu falar no Efeito Barnum ou Forer? (vídeo que fiz com o mentalista Leonardo Martins há 13 anos). Você já experimentou dar uma olhada em outros perfis além do que saiu para você? Eu me encaixo facilmente em uns quatro deles!
Claro que já fiz esse teste algumas vezes, mas sempre brincando e nunca parei para pensar que as pessoas estavam levando muito a sério. Eu até via gente colocando no perfil do LinkedIn e sabia de seleção de emprego usando isso, mas… seleção de emprego também pergunta que bicho você seria e outras coisas estranhas. Acabei não parando para pensar criticamente.
Aí a Vivi Maurey falou no assunto e, finalmente, decidi dar atenção aos “testes de personalidade” e agora tem uma nota enorme no meu banco de conhecimento pessoal no Obsidian (falo de Gestão do Conhecimento pessoal no Meme de Carbono) com fontes, testes, etc. que vou resumir aqui.
Todas as vezes que fiz esses testes duas coisas me incomodaram, aliás, três:
- Eu tinha muitas dúvidas quanto ao que responder em mais ou menos metade das perguntas;
- As respostas para quase todas as perguntas dependiam muito de contexto: em ambiente de trabalho ou no lazer? No dia-a-dia ou em uma situação de emergência? Entre pessoas amigas ou em um ambiente estranho? Escrevendo um texto como esse, uma crônica, um conto realista, um conto de fantasia?
- Acho que não temos a mesma “personalidade” o tempo todo. Podemos acordar um dia mais determinados e criativos, outro mais reflexivos e objetivos, aliás, o nosso espírito pode mudar ao longo do dia. Basta passar parte dele se dedicando a algo cartesiano e depois ir para um espetáculo de dança contemporânea ou teatro experimental…
Tendo essas dúvidas em mente fui pesquisar na Scientific American (pelo amor de Turing, NÃO vá numa IA regurgitadora!) a história do teste, avaliações dele e de outros testes.
Fiquei surpreso ao ver que o Myers-Biggs é fortemente desqualificado! Achava que tinha pelo menos alguma validade para identificar tendências gerais na gente.
Inclusive bem que fiz o teste novamente e deu beeeem errado: ENTJ-A.
O que deu mais ou menos coerente foi eu ler cada um dos quatro grupos e identificar diretamente em qual me enquadrava mais e deu o ISFP do título… com as ressalvas que já citei.
Na pesquisa achei também o teste Big Five, que realmente, como procura demonstrar a Sciam, é um pouco mais… útil.
Ainda assim persistem os problemas que já comentei. A média dos artigos que li em boas fontes sobre esses testes fala na utilidade de refletir sobre nós, pensar no que consideramos que nos define, mas me parece bem ruim quando a gente acredita que é ISFP ou a sigla que seja. A gente acaba se enfiando em uma caixinha apertada de características e pior ainda quando dizemos para os outros que somos aquilo, nos limitando mais ainda às expectativas das pessoas.
Ser livre é importante, aliás, é essencial! Mesmo quando estamos presas em algum tipo de pan-óptico que nos leva a criar uma imagem e um perfil para nós, como se vivêssemos em uma distopia que nos levasse a publicar essa imagem para todo… mundo… ver… Ops…
Podemos até estar bem com a imagem que criamos… supondo que fomos nós que criamos e não o algoritmo de alguma mídia social que recebeu a missão de nos moldar conforme os interesses daquela mega-empresa, frequentemente com agendas políticas beeeem questionáveis. Mas isso é para a sessão Mídias Sociais lá do Meme de Carbono… Ainda assim, estamos nos limitando àquela imagem.
O lance é que já temos coisas demais que nos limitam, né? A gente não precisa de um questionário que diga quem somos. Ainda assim, talvez possa ser divertido como exercício de reflexão e ego trip…
Fontes:
- SCIAM: Personality Tests Aren’t All the Same. Some Work Better Than Others
- Vox: Myers-Briggs personality test meaningless
- The Conversation: Personality tests with deep-sounding questions provide shallow answers about the ‘true’ you
- Myers & Briggs – Site oficial
- Teste Myers & Briggs gratuito
- Instituto de Psiquiatria do Paraná – Teste de personalidade MTBI: O que é, como funciona?
- Teste Big Five Inventory
Imagem que ilustra o post
Foto de Олег Мороз na Unsplash
